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Tese apresentada na V Jornadas de Ciências da Comunicação FLUC - Universidade de Coimbra (Portugal)


Por Philippe Abouid, CEO da Dawra


No dia 26 de junho, finalizei as jornadas de apresentação da minha tese de doutorado intitulada "Microfascismos digital e de gênero: a ofensiva antigênero e contra os direitos da população LGBTQIAPN+ no Instagram", defendida em dezembro de 2024 no programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais - PPGCOM UFMG, sob a orientação da profa. Dra. Joana Ziller. Essa foi a terceira discussão pública do trabalho, que também foi apresentado no VII Colóquio Discente "Diálogos e Convergências: rebeldia como prática da (im)possibilidade", do PPGCOM UFMG; e no III Seminário de Pesquisa Comunicação, Jornalismo e Colonialidades do Saber e do Poder, realizado na FAFICH, UFMG.


A tese discute o contexto de ofensiva antigênero e contra os direitos da população LGBTQIAPN+ no Brasil a partir de publicações no Instagram de parlamentares LGBTQIAPN+ alinhados à direita conservadora. O microfascismo (Guattari, 1981, 2016; Bratich, 2022) é tomado como conceito e manifestação político-social para entender esse fenômeno cultural, social e político. Esse conceito foi desenvolvido por Deleuze e Guattari (1996) em diálogo com as discussões de Foucault (1977) sobre biopoder e biopolítica. Eles nos convidam a pensar o fascismo para além de uma manifestação geopoliticamente localizada na Itália de Mussolini, ou na alemanha nazista, mas pensá-lo em suas manifestações micropolíticas, espraiadas no cotidiano e nas práticas culturais. O termo se refere a tendências autoritárias e repressivas que podem surgir em qualquer nível da sociedade, não apenas no Estado. O microfascismo, portanto, é visto como uma manifestação micropolítica de poder e controle que é exercida em escalas moleculares, micropolíticas.


Compreende-se que o gênero é o principal mecanismo do microfascismo na atualidade, especialmente na formação de uma subjetividade masculina

microfascista. Entender o microfascismo como um investimento social em formas

masculinas de soberania consiste em perceber as práticas microfascistas na

instrumentalização masculina das mulheres, nos impulsos feminicidas, nos racismos,

na xenofobia e nas LGBTQIAPN+fobias. No contexto das plataformas digitais, o conceito de microfascismo é aplicado para entender como as práticas, comportamentos e microviolências implicadas nessa agenda antigênero no Instagram, reforçam estruturas de poder e normas sociais que contribuem para a marginalização, silenciamento, exclusão, descapacitação política e apagamento de corpos dissidentes nas dimensões de gênero e sexualidade. Ou seja, observa-se a reverberação de microfascismos digital e de gênero implicados nessa ofensiva conservadora. A metodologia utilizada é de natureza qualitativa, a partir da análise de conteúdo (Bardin, 1977), e examina as publicações feitas pelos parlamentares em seus perfis no Instagram. O corpus é composto por postagens compartilhadas entre as eleições de 2022 e o primeiro semestre de 2023.


A análise se baseia nas discussões sobre microfascismos de gênero e digital, buscando entender como os ataques publicados no Instagram à política, identidade e cidadania LGBTQIAPN+ reforçam estruturas de poder que marginalizam as dissidências sexuais e de gênero. Os resultados indicam que a militância e algumas vivências LGBTQIAPN+ são demonizadas e associadas à ideologia de gênero, comunismo e subversão de valores morais e cristãos. Eles também indicam a organização de cinco frentes de ação nessa ofensiva antigênero e anti-LGBTQIAPN+: (1) os ataques à identidade de gênero de pessoas trans e travestis, incluindo a assistência à saúde a crianças trans; (2) tentativas de proibição da participação de pessoas trans no esporte; (3) o uso de banheiros por pessoas trans segundo a sua identidade de gênero; (4) a utilização da linguagem não-binária e (5) os ataques ao movimento e às paradas LGBTQIAPN+. Esses ataques buscam descredibilizar e descapacitar politicamente as lutas LGBTQIAPN+, levando-as ao esgotamento. Este estudo contribui para a compreensão de como o microfascismo se infiltra em estratégias digitais de comunicação política e eleitoral, podendo ser utilizadas para atacar a população LGBTQIAPN+; além de fornecer perspectivas para futuras pesquisas e intervenções políticas.


Além da apresentação deste trabalho, também tive a oportunidade de participar do workshop "Hashtags em Disputa: como extrair e investigar dados do Instagram" , ministrado pela professora doutora Ana Marta Flores, da Universidade de Coimbra. O curso apresentou estratégias, métodos e metodologias aplicáveis a pesquisas desenvolvidas em plataformas de mídias digitais. A oportunidade de participar desse seminário internacional de Ciências da Comunicação é valiosa, especialmente pelos momentos de troca de conhecimentos em metodologias de pesquisa e pelas discussões sobre plataformas de mídia digital, inclusive em sua intersecção com perspectivas teóricas de gênero e sexualidade.


O desenvolvimento de pesquisas acadêmicas e a participação em eventos internacionais que discutem fenômenos sociais, culturais, políticos e econômicos da sociedade plataformizada refletem o compromisso em oferecer à agência Dawra um olhar amplo e crítico sobre o ambiente comunicacional contemporâneo. Essa agência digital surge, assim, como uma extensão dessas competências profissionais e acadêmicas, destacando-se pelo conhecimento crítico, que constitui um dos principais diferenciais dos serviços de Comunicação, Marketing, Consultoria e Treinamento oferecidos pela empresa.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.


BRATICH, Jack Z. On Microfascim: gender, war, and death. Brooklyn: Common

Notions, 2022.


DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Micropolítica e Segmentaridade. In: DELEUZE,

Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. v. 3. Tradução de Aurélio Guerra Neto et al. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1996. p. 83-115.


FOUCAULT, Michel. Introdução à vida não-fascista. Prefácio. In: DELEUZE, Gilles;

GUATTARI, Félix. Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. Nova York: Viking Press,

1977. pp. XI-XIV.


GUATTARI, Félix. Revolução molecular: pulsações políticas do desejo. São Paulo:

Editora Brasiliense, 1981.


GUATTARI, Felix. Micropolítica do fascismo. Cadernos de Subjetividade. Da afasia

aos gritos, São Paulo, n. 19, p. 9-26, 2016. DOI:


 
 
 

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